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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Revista Sentidos - A inclusão social da pessoa com deficiência

Está é uma reportagem da Revista Sentidos, publicada dia 23 de outubro de 2013.
100% capaz! O deficiente visual pode fazer muito mais do que empregadores imaginam. Basta as empresas abrirem as suas portas para ele. Por Claudete Oliveira

O sociólogo Manoel Negraes, que ainda não conseguiu emprego A falta de conhecimento da capacidade que as pessoas com deficiência visual têm de exercer as mais diversas funções, aliada ao desinteresse por parte de empresas em investir no funcionário são os principais motivos das poucas oportunidades de trabalho oferecidas para esta parcela da população, que, de acordo com o Censo do IBGE de 2000, constitui o maior segmento entre pessoas com deficiência no Brasil. Dos 24,5 milhões de brasileiros com deficiência, 57,16% têm dificuldade para enxergar e 0,6% são cegos.
Considerando que mais da metade da população com deficiência é formada por pessoas que têm dificuldade para enxergar e por cegos, é preocupante saber que o deficiente visual é quem encontra maior dificuldade de ser inserido no mercado de trabalho.
Segundo o chefe de unidade do Centro de Treinamento e Aperfeiçoamento da Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais (AVAPE), Marcelo Vitoriano, das 246 pessoas que a entidade inseriu no mercado no ano passado apenas 2% eram deficientes visuais. O percentual confirma a discriminação ao cego. Outro dado estatístico que reforça ainda mais a informação é o levantamento feito pela Delegacia Regional do Trabalho no Estado de São Paulo. De acordo com a assessoria de imprensa, a DRT notificou 3.525 empresas no estado no ano passado. Nos últimos cinco anos, cerca de 28.815 pessoas com deficiência foram contratadas. Desse total,  penas 7,19% eram deficientes visuais.
De acordo com o presidente da União dos Cegos no Brasil, do Rio de Janeiro, Climério Rangel, 55 anos, isso acontece porque as pessoas, em geral, não entendem a cegueira. "Elas fecham os olhos e percebem que não conseguem dar um passo à sua frente. Logo imaginam que o cego, por não enxergar, é incapaz de realizar qualquer atividade", explica Rangel, que é cego há 36 anos. "Quem ainda pensa assim está enganado, pois o cego pode ser reabilitado e adquirir autonomia e mobilidade." No Brasil, existem várias ONGs que, além de reabilitar o deficiente visual, oferecem cursos de capacitação profissional e encaminhamento às empresas.
Além de escassas, as vagas de trabalho oferecidas ao cego são quase sempre as mesmas, principalmente para quem não tem nível universitário. É comum ver deficientes visuais trabalhando como massagista, telefonista, operador de telemarketing e auxiliar de radiologia. É claro que a dificuldade para conseguir uma colocação no mercado não desaparece quando o candidato a um posto de trabalho possui boa qualificação. Mas as chances são maiores, segundo o consultor de relações institucionais da Associação Laramara, Antonio Carlos
Barqueiro. "É essencial que o cego, além de fazer cursos de capacitação profissional,  tenha, no mínimo, o ensino médio completo", orienta Barqueiro. Foi seguindo essa recomendação que o balconista Umberto Figueiredo Borges, de 41 anos, resolveu continuar os estudos do ensino médio. Devido a uma doença congênita, Borges vem deixando de enxergar ao longo dos anos. A doença foi descoberta há uma década. Hoje ele tem apenas 30% da visão. Desempregado há
dois anos, além de voltar a estudar ele está fazendo cursos de preparação para o trabalho da AVAPE. "Não há nada melhor do que você ter um trabalho e se sentir útil", diz Borges. Se, por um lado, o deficiente visual se esforça para conseguir uma colocação no mercado, o mesmo não acontece por parte de muitas empresas. Às vezes elas nem procuram saber o grau da deficiência visual de quem está buscando uma vaga. Para Barqueiro, esse é um fator que  agrava a situação. Quem tem baixa visão - entre 5% e 20% de visão no melhor olho - quase
nunca precisa de adaptações como softwares de voz para trabalhar usando o computador.
Raquel Leite Fernandes, avalia produtos de uma empresa de aromas O gasto com tais equipamentos também é utilizado como argumento por parte de empregadores para não contratar deficientes. "Existem lupas que ampliam as letras na tela do computador. Este acessório é utilizado para quem tem baixa visão, mas muitas vezes nem é preciso adquiri-lo, porque o próprio Windows possui uma ferramenta que oferece o mesmo recurso", afirma Barqueiro. Já o cego precisa de um recurso específico como o Jaws, um software de voz que permite ao usuário realizar qualquer trabalho no computador - os mesmos feitos por uma pessoa que enxerga.
O advogado Ubiratã Fernando Silva, 31 anos, é cego e trabalha em um escritório de advocacia em São Paulo. Antes de conseguir este emprego, Silva conta que enviou seu currículo a diversas empresas e agências de empregos, mas nenhuma o havia sequer chamado para entrevista. Para ser admitido no escritório onde trabalha Silva teve de passar por um processo de seleção, como qualquer candidato. "Passei por entrevistas, realizei testes de conhecimentos específicos da minha área e fiz exame psicotécnico", conta ele. Silva trabalha com uma equipe de dez advogados. Para realizar sozinho as mesmas  atividades desempenhadas pelos colegas, precisou apenas que a empresa instalasse um software de
voz no seu computador.
No caso do advogado, o fator facilitador para que ele fosse admitido - além da qualificação - foi a oportunidade que a empresa lhe deu para mostrar que, apesar de não enxergar, é capaz de desempenhar perfeitamente o trabalho exigido. Para sanar as dúvidas que empregadores costumam ter com relação à capacidade do deficiente, a Fundação Dorina Nowill para Cegos, assim como a Associação Laramara, capacita e orienta o deficiente visual, além de convidar empresas a visitar as entidades para ver como o cego é reabilitado e tudo o que é capaz de fazer. "Muitas empresas nos procuram para conhecer melhor essas pessoas. O empregador fica surpreso quando conhece a capacidade do cego", diz a psicóloga Tânia Jung, responsável pelo setor de orientação e colocação profissional  da Fundação Dorina.
O advogado Ubiratã Silva é considerado exceção, pois pessoas cegas ou com baixa visão, mesmo com boa qualificação, também encontram dificuldade para entrar no mercado de trabalho.

fonte: revista sentidos

http://sentidos.uol.com.br/canais

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