Superação
Para sinalizar o dia nacional da pessoa com deficiencia pósto essa matéria de uma amiga muito especial, que é um exemplo de luta e superação.Na foto Patricia Lisboa, Edsom seu marido e seus filhos Yasmim e Gabryel |
Com os olhos da alma
“Sabendo que diziam ser impossível, PATRÍCIA LISBOA (29) foi lá e fez!” Esse tem sido o lema dessa mulher, que, apesar da deficiência visual que a impede de ver o mundo desde os dois anos de idade, desafiou e provou a quem duvidava que para ela, nada é impossível. Casada e independente, tem um casal de filhos gêmeos que são seu maior tesouro.
Patrícia nunca gostou de estar no papel de vítima e, sim, de protagonista de sua própria vida. Faz questão de ter nas mãos as rédeas de sua existência e de se direcionar, sozinha, para onde achar melhor. “O deficiente fala por si. Tem uma emenda da Constituição que diz isso. Não podemos esperar em casa pela bondade alheia. Temos que ir à luta contra a acomodação e conquistar as coisas com mérito próprio. Desejo que a pessoa com deficiência assuma o seu espaço criado pela sociedade para protegê-lo, mas que saiba usá-lo para reivindicar o que precisa.”
Patrícia que trabalha, lava, passa e cozinha, nasceu sem problemas de saúde, mas, aos dois anos, por uma reação alérgica ao remédio à base de dipirona, desenvolveu a Síndrome de Stevens-Johnson - doença que causa erupção cutânea nas mucosas, podendo ocorrer nos olhos, nariz e em outras partes do corpo. Seus pais, Mirta (45) e José (in memoriam)tiveram dificuldade para entender a doença e para lidar com a nova situação. Fui a primeira de seis filhos e, por isso, as adversidades foram maiores. “Hoje apenas consigo perceber a claridade.” Somente aos cinco aninhos que a então menina conseguiu restabelecer a saúde, pois até então, era uma criança bastante debilitada e vivia em hospitais.
A funcionária pública municipal concursada – Assessora de Políticas Públicas - que nasceu em Canoas, veio com sete anos, juntamente com sua família, morar em Gravataí e nenhuma escola a aceitava. Mas Dona Mirta não esmoreceu e conseguiu com que a filha mais velha fosse alfabetizada, em braile, na Escola João Paulo II. “Agradeço muito à professora Conceição, que tinha uma sala especial e lá aprendi e avancei muito.” Também estudou, depois de provas de nivelamento, na Escola Estadual Clotilde Rosa, na Escola Presidente Getúlio Vargas, no Polivalente e no CIEP da Morada do Vale I, que disponibilizavam salas especiais para esse tipo de aprendizagem. “Nunca tive acesso a computador na escola. Não tinha livros. Eram as professoras quem escreviam, manualmente, com a ajuda do reglete e da punção - um dos recursos utilizados por alunos com deficiência visual. Quando ingressei na vida profissional, fui a primeira funcionária com deficiência visual da Rede C&A Modas, onde fiquei por três anos.”
Determinada a procurar sua felicidade, foi assim, quando teve o primeiro encontro com aquele que viria a ser seu marido. “Durante um almoço no encontro de confraternização da União de Cegos do RS ouvi a voz do Edson (25), que cantava e tocava violão. Foi amor ao primeiro ouvido”, brinca. “Ele também tem deficiência visual, mas enxerga com 5% da visão.” Um ano depois estavam noivos e, logo em seguida, casados, relação que já dura nove anos.
Com três anos de matrimônio, Patrícia engravidou e pediu demissão para se preparar para o momento mais especial de sua vida. Os dois já moravam sozinhos e, por escolha, decidiram criar, também sem ajuda, o casal de gêmeos que agora já tem seis anos, Yasmim e Gabryel. “Na hora do nascimento, sofri com a desinformação de alguns funcionários do hospital, pois para tudo se dirigiam à minha mãe como se eu não pudesse decidir por mim. Deram aos meus filhos, sem me consultar e sem necessidade, leite em pó específico para os primeiros dias de vida da criança. Nem se deram ao trabalho de me ajudar a estimular meu leite. Foi aí que resolvi que assumiria, com meu marido, os cuidados com eles, pois deveriam, desde cedo, conhecer e atender às limitações dos pais.”
Ela e o marido criaram um ambiente em que as crianças, que enxergam perfeitamente, entendessem a importância de aprender coisas simples como, por exemplo, não mudar um móvel do lugar ou não deixar algum objeto no meio do caminho. Hoje, segundo ela, são meninos que não dão trabalho e não deixam de fazer nada que os amigos fazem. “Porém sabem que o jeito de fazer é diferente, pois filho de quem não enxerga não pode andar solto na rua e, por isso, sempre estão de mãos dadas com a gente. Também não podia, quando bebês, dar a comida na frente da TV, pois se distraem e acertar a boca fica difícil.” As crianças estão aprendendo a ler e a escrever. “Ajudá-los nisso é mais uma superação, assim como foi cuidar do meu pai que teve câncer e veio para minha casa porque queria ser cuidado por mim. A próxima será cursar Direito na UFRGS, pois é meu sonho e estou me preparando para isso. Só posso me considerar muito feliz, porque tudo o que desejei, alcancei. Vou reclamar de quê?”, conclui Patrícia que não vê o mundo com os olhos, mas sua alma o sente com o coração.
Veja a matéria na integra no site da Revisra Evidencia:
http://www.revistaevidencia.com.br/artigos/edicao-168---setembro/153-superacao4223.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário